quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Boris

Gostava de ser poeta
E exclamar-te toda em verso
Mas faltam-me livros, arte e ócio
E as rimas não se descobrem
Apenas no amor!

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Descia

Descia o Bil a rua do Alecrim todo ligeiro

Quando se deparou com os skins do Barreiro

Olha, olha, o Elvis revisitado todo pimpão

Bramiu um dos skins em grande vozeirão

E o Bil assustado e em passo ligeiro

Reagiu com um “então companheiro?”

Não é que os carecas amuaram

E de forma brutal carregaram

E assim ficou o Bil em dança sem sentir o pé

Até mais tarde visitar o são José

Não perdera a popa ainda assim

Nessa briga da Rua do Alecrim

Mas não é que as enfermeiras delicadas

Por forma a tratarem os cortes das facadas

Lhe raparam o cabelo e rasgaram o cabedal?

O Bil amuou em silêncio e em fúria animal

Mas logo lhe passou fruto das dores abdominais

Causadas pelos pontapés e socos dos animais

E rasgado mas rockabilly com peneiras

Voltou a casa no jardim das amoreiras.


O Pão por Deus - 1º de Novembro - Dia de Todos os Santos

Neste dia e há muito tempo atrás, íamos ao pão por Deus, tradição esta sim enraizada em Portugal. Quando era possível íamos com os meus pais para a aldeia (perdida no Ribatejo), aí sim tinha piada corriamos as ruas todas e todos nos conheciam... chegávamos a casa carregadinhos de coisas boas... bolinhos, nozes, figos secos, romãs, até chouriços (que a D.Gina (do talho), nos dava).

Na cidade sempre foi diferente... o meu príncipe só o fez uma vez...e ainda não é este ano que irá à aldeia ao pão por Deus...

"Ó tia, dá Pão-por-Deus?
Se o não tem Dê-lho Deus!"

A homenagem aos nossos mortos é feita a 2 de Novembro... que cada um chore os seus sempre que lhe aprouver....




quarta-feira, 30 de outubro de 2013

A Serra


Foi tão rápido, natural e bonito

Que tudo me parece eterno

Este azul acinzentado infinito

Por entre o verde e a pedra

E a nuvem constante sobre a serra

Que avistamos da janela.


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Descrever o que a tua beleza encerra

É falar de coisas simples do mar e da terra

É sublimar o brilho do fogo incandescente

Que surge detrás do mistério do oriente.


Descrever-te ao mundo é tomá-lo do avesso

Aclamar-te em cada pedra que o deserto atravessa

Possuir-te entre as flores árticas de coração inconfesso

Embalar-te em doces pautas dos ventos sem pressa.


Assim dizer-te é somente exclamação

Tonar-te mais alta na eterna lembrança

Dos que depois de ti persistirão


Assim amar-te é a minha completa esperança

No meio das desvirtudes carentes de razão

De relembrar-te para sempre em cada dança.

Colecta

Ouvi um excerto de uma entrevista na Rádio Renascença. Alguém, daqueles que fala de tudo a rir por entre anúncios com ecos metálicos que nos ferem os tímpanos e a alma, inquiria outro sobre uma parte de um livro que este supostamente tinha escrito e cujo assunto eram as excentricidades de atores e atrizes de Hollywood. Pergunta o ridente e risível locutor “Diz que há uma atriz que tem medo de borboletas”- e ri-se muito – “Quem é?”. Responde o outro “Não me lembro, eheheheh, chumbei no exame, eheheheh, mas sei que é uma atriz contemporânea”. O Locutor interrompe a rir e passa uma música de uma batida que consegue ser mais irritante que as duas personagens. Depois diz o “escritor colector”, “a atriz que mais me fascina é a Mae West, bla bla bla…”. Este gajo chama-se Edgar Pêra! Um realizador português com relativo sucesso, não só a nível nacional, decide escrever, ou melhor, plasmar, cusquices sobre estrelas de Hollywood. Uma espécie de rebuscar os caixotes do lixo à procura de almoço mas em bem, recolhendo canapés em vez de pão bolorento. Ou talvez a procura da redenção por “pecados” passados, ao abrigo da sempre condescendente entidade que manda na Rádio. Deve estar mesmo a atravessar uma fase má, o Edgar, sem dinheiro e sem vergonha. A outra personagem desta história, o do riso permanente, não sei como se chama, um Valdemar ou Constantino qualquer.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Benfica-Paços

Benfica – Paços de Ferreira A princesa foi ao castelo, estava linda com os adidas pretos, calças de ganga azuis com uma dobra pelos tornozelos e a blusa preta das andorinhas. Emanava aquela luz, aquele brilho das manhãs em que a conheci. Partiu deixando um rasto a doçura espalhado por toda a casa. Fiquei eu, o seu cheiro em cada coisa, o gato e o sofá. E a Benfica TV, por uma vez toda a tarde só minha. Contra todas as possibilidades, trocaria aquela liberdade, eu e o zapping, Benfica TV, Eurosport, Liga Inglesa, Vuelta, antevisão cheia de perguntas e respostas estúpidas, pela ida ao castelo com a princesa. Creio que a isto se chama amor. Chegou rápido a hora do jogo. Do limbo que retive, penso que o Benfica não fez um bom jogo mas o mais importante foi conseguido. Que frase futeboleira mais original! Lamento a ausência, minha e de tantos outros, no estádio. Há certamente muitas razões para – perdoem-me a utilização desta palavra - tanta indiferença. Eu próprio, que não passo um dia sem pensar no Benfica, não sinto a motivação necessária para ir ao estádio. E dou muitos argumentos para tal, a maioria de mim para mim, autojustificando-me. O facto é que quase nada correu bem até agora e todos os ventos nos guiam em direcção ao precipício de mais um ano sem ganhar. Tudo envolvido em ignorância bacoca a popularismo imbecil. Em traumas de grandeza e humildades falsas, com gente de fora ao leme, sem amor e sem respeito. Correu bem, ainda assim, o jogo. Depois, bem, após jogo tivemos mais uma oportunidade perdida. Mais do que tantos lugares comuns debitados, teria de ter havido alguém, alguém da “estrutura”, da puta da “estrutura”, que tivesse dito ao JJ “mister, uma só frase, ganhámos a uma equipa difícil que na semana passada perdeu com o Porto com um golo irregular”. Todo este sentimento de fim de época fracassada contamina-me, esta desistência e ambiente de intrigas de corte enoja-me e magoa-me. O sonho mantém-se, não o conseguem extinguir. Até ao dia da capitulação de quem não gosta do Benfica.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

A festa

A festa era no segundo esquerdo do último prédio também à esquerda da rua, em casa da Cinda e da Nuzka. Encharquei-me em after-shave Vert Sauvage do meu pai. Não sei se pela natureza ou pelo excesso, o cheiro intenso invadiu-me em tontura, uma espécie de alucinação a que teimei em dar continuação, olhando-me ao espelho, mais um pouco de gel, espelho, passando os dedos para um ar desgrenhado, vestindo um polo azul, depois preto, não, azul, finalmente branco, três botões apertados, calças de ganga azuis com dobras nos tornozelos e all-star vermelhos – look new-age, assim à moda dos Joy Division, Smiths ou dos Cure. Conveniente preparado, de modas e pequenos e castanhos facilitadores de alegria, desci ao encontro do Elvis e do Jonas. E, espanto dos espantos, ambos usavam polos brancos e calças de ganga com dobras nos tornozelos. Apenas diferia a cor dos all-star, pretos do Jonas, brancos do Elvis. Creio que todos nos sentimos orgulhosos desta coincidência, embora tentássemos, por pouco tempo e sem convicção, convencer os outros a mudar qualquer coisa no visual. Ninguém se incomodou a subir a casa e alterar uma peça que fosse. Assim, chegámos à festa como aqueles filhos dos betos que víamos no centro comercial, todos iguais, mesmos cabelos à tigela, polo, calções azuis-escuros compridos com bolsos de lado e sapatos de vela, e dirigimo-nos para o quarto do lado direito, que na verdade era a sala de estar. Nesse dia, porém, estava transformada em pista de dança, bola-de-espelhos e tudo, e em bar. Creio que fomos os últimos a chegar, fruto de duas pausas, óleo e tabaco dissolvidos em fumo, confusão, risos e filosofias, finalmente em paz feita de torpor. O Elvis segurou a mesa das bebidas até ao final, ou pelo menos até ao seu final, agarrado à sanita a expelir um líquido espesso e acastanhado. O Jonas perdi-o depois da minha primeira dança, quase instantânea, com a linda hippie de Moscavide. Já a tinha vista por uma vez, de passagem, e assim que entrei convidou-me para dançar. Antes do fim da primeira música, sem sequer termos trocado uma palavra, beijámo-nos, como se sempre soubéssemos o que ali fazíamos, aceitando sem luta o destino. E a sala toda em espanto observou-nos e nós no centro do mundo dançámos acorrentados um ao outro pelos lábios. Até que a festa abruptamente terminou. Perdi-lhe o rasto, até o nome, mas guardo na memória a sua imagem, os cabelos longos pelas costas, os olhos claros e os óculos redondos. E embora não me tivesse parecido, eu e ela fomos quem se portou pior na festa segundo o irmão da Cinda e da Nuzka, opinião cheia de ciúmes, pensei.

Paralelo

Paralelo à ignorância segue a vontade de não mudar
Tanto como na mudança reside toda a vulnerabilidade.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Não vejo os jogos do Benfica

Não vejo os jogos do Benfica. Às vezes estou lá, por dentro, carne e coração envolvidos por um só grito, um rumor crescente de carinho, outras em casa prostrado em frente à televisão e em nenhuma destas ocasiões vejo o jogo. Mas em ambas olho e até me finjo entendido nas movimentações, mestre nas alterações tácticas, vidente de simulações e substituições e julgo respirar. Toda a atenção que dedico, humilde e voluntária, subtrai-me e diminui-me até, já de rastos, ver o jogo terminado. E mesmo então, acariciado com o leve calor da vitória ou violentado pela chuva ácida da derrota, tento resumir e saem-me palavras em branco. Como se desejasse, e ah como o desejo, que toda a vida ali decorresse - noventa minutos sobre noventa minutos, e eu extasiado e confuso, profundamente deprimido e no segundo seguinte ardente de alegria, entre o pânico, a frustração e a sublimação - por forma a um dia, mais adulto de emoções, poder então explicar como foi o jogo. Como foi o jogo? Ah, soubessem eles, tivessem eles esta cegueira de amor incondicional e não me questionariam. Não entendem que toda a ilusão que dispenso, a força dos nervos e dos músculos, a função das veias e dos poros, todos os ossos, se destinam apenas a esses noventa minutos e que durante esse hiato, parado, imune, imortal, não retenho memórias porque não tenho medo do futuro.