sexta-feira, 10 de março de 2017


Um certo Luís Freitas (Raposa) Lobo
 
Há uma grande vantagem quando se fala de futebol.

Pode-se criticar o Benfica por utilizar os lançamentos de linha lateral para mandar a bola para a área mesmo antes de daí resultar golo e, no momento seguinte, passarmos simplesmente a referir que o Benfica utiliza esta táctica, sem qualquer juízo de valor.

Podemos glorificar o Guimarães e toda a estratégia montada e ficarmos quedos de tristeza quando o Benfica marca um golo.

Podemos dizer que “preparamos jogos” nos nossos devaneios, que os portugueses não nos merecem, a nós, os sábios, os especiais, que passamos horas a ver vídeos de autoconsolarão.

Podemos enfim, ser subtis, chico-espertos cirúrgicos, especialmente quando trabalhamos em empresas da mesma índole, que ocultam imagens e traçam linhas que nem a estupidez humana supera.

Nas nossas alucinações, tudo é táctica, um xadrez humano harmonioso e científico. Não falamos de árbitros quando o Benfica é prejudicado mas falamos de árbitros caso contrário.

Queremos é falar do jogo, de coisas que não sabemos mas imaginamos com palavras difíceis que dão ares de credibilidade, sempre com cuidadinho para não ferir o dono.

De resto, toda a gente é clubista, mais ninguém gosta de futebol, apenas gostam dos seus clubes. Podemos insultar quem faz comentários, dizendo que não têm neurónios, uma cambada de ignorantes.

E nós e os nossos moinhos de vento, sempre firmes em divagações, ainda por cima pagas,  sobre os médios centro e os laterais a compensar…

Tentamos enfim ficar na história quando não passamos de emplastros na efémera procura de glória.

Como um desses comentadores de fora, tendo até já passado por dentro em tempos de que guardo saudades, e com todo o respeito que o jornalista Mário Fernando merece, tenho a dizer o seguinte:

O Futebol Português não existe nem poderá existir enquanto houver um estado sem lei no nosso país.

Há um clube em Portugal que ganha e ganhará mesmo com treinadores medíocres e jogadores banais.

Tudo o resto são bazófias, vou ali agora ao dentista arrancar o meu duplo pivot!

quarta-feira, 31 de agosto de 2016

História do carrinho voador.

Há dias recebi, já de noite, um telefonema de uma mulher, embaraçada, que me disse ter em sua posse o carrinho de bebés que eu havia perdido nessa tarde. Acordámos encontro para a manhã seguinte, devolveu-me o carrinho, entre lágrimas de remorso por ter cedido à tentação de levar um objecto junto a uma escola que sabia pertencer a outrem. Aceitei as suas sentidas desculpas. Partilhámos então um café, ambos felizes, ela pela redenção, eu pelo seu gesto. Tudo se passou numa vila imaginária chamada Utopialândia, nos limites da grande metrópole Nova Esperança.
Depois acordei e deparei-me com uma das mais infames condições do ser humano, a pobreza de espírito, a degradação e insensibilidade que nos caracteriza cada vez mais. A história universal é clara, embora com diversas e possíveis interpretações, mostra-nos sempre que o nosso lado mau supera estrondosamente o bom. Só assim é possível compreender o incompreensível, as guerras, os Gulags, Auschwitz, a exploração social, sexual, a pedofilia, a escravidão. Sempre o lado mau a esmagar os rasgos de humanidade que, ingenuamente acredito, ainda mantemos. Se em situações extremas, como a fome, acções extremas são toleráveis, neste momento, no nosso país, no estado civilizacional em que julgava estarmos, o que se passou naqueles dias de Julho não se justifica à luz de qualquer racionalidade.
Há dias fui buscar os gémeos à escola, depois de por os ovos com os bebés no carro, prender-lhes o cinto e pousar a mochila, arranquei, deixando o carrinho no passeio. Assim que dei conta, voltei e apenas encontrei o passeio. Dirigi-me a casa, deixei os gémeos, entretanto a mãe voltou e pude sair de novo. Indaguei várias pessoas sem sucesso, até que uma senhora, numa rua próxima da escola, me disse que tinha visto duas mulheres passarem em frente da sua loja com a armação de uma carrinho, o que lhe pareceu obviamente estranho. Viu-as dirigirem-se para determinado bairro próximo. Passei esse e o dia seguinte a colar cartazes, oferecendo uma recompensa a quem me devolvesse o carrinho.
Três dias depois, recebi um telefonema imoral, tenebroso, indecente. A mulher mentiu em catadupa, tentado explorar ao máximo a nossa fraqueza. Resisti até onde pude, talvez devesse ter resistido mais, até ter sido mais contundente, mas não, já aprendi há muito que a pobreza de espírito e a ignorância são inimigos impossíveis de vencer.
A todos os que ao verem um carrinho perdido num passeio em frente a uma creche o devolveriam, o meu respeito, a minha admiração.
Aos ladrões e chantagistas, sei que contribui para menos um par de ressacas, e sei também que dormiram descansados. Pois bem, que se recuperem ou então encontrem uma dose pura e durmam o sono dos justos.

segunda-feira, 4 de maio de 2015


Depressa de mais

 

Todo o meu tempo convosco se apressa

Em torrentes súbitas e desmedidas

E por vezes nem reparo na promessa

Dos dias lentos, não os cumpro nem vejo.

Mas, embora veloz é feliz este meu tempo

Em que vos acompanho.

 

E mais belos que os sítios

Os castelos, a água, o verde, a lezíria

Estes dias foram cascatas de alegria

A descer pelos montes secos da planície

Foram ternura oferecida nos olhares

Cúmplices e inocentes que só o amor

Oferece.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015


Move on...
recomeça...
com mais força e mais vontade...
com Alegria e determinação.

Cai, levanta
mas não percas a fé!

A tristeza é para ser sentida,
por muito tempo é que não é!

Não deixes que a vida passe,
sem que a vivas plenamente,
dá valor ao que tens,
Dá valor ao que sentes!

sexta-feira, 2 de maio de 2014


Não acredito em mais que o pó
Que nos olhem e nos velem
Quem abandonámos à morte
Acredito no amor que deixam os imortais
Não mais que isso, amor e lembrança.
Dito isto, sei que estiveste em Turim ontem
Mãe, e sei que o Eusébio e o Coluna te ampararam
Nesse sofrimento de pensares no meu
Sempre atenta ao silencioso desespero desta perdição
Estiveram lá, bem sei, ainda que só
Na minha imaginação.

quarta-feira, 26 de março de 2014

Manhãs

Desponta o sol sobre a Serra,
tentamos fingir que não vemos,
olhamos as horas com pena.
Levantemo-nos!

Mais um dia de labor
mais um dia de enfado
existe a esperança no sabor
de termos um dia bem passado.

São ténues, complicadas,
Com ternura acordamos,
sigamos devagar,
para o destino caminhamos.

Dias há que tudo é luz,
naqueles em que não há pressa.
Aproveitamos sem a cruz.
As manhãs concerteza!



segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014


Morro de ternura!

 

Morro de ternura quando o teu hálito quente

Encontra o meu em noites longas de invernia

E sempre que juntamos os lábios em fogo ardente

Sinto um tremor de carinho e um consolo de alegria.

 

Morro de ternura e apetece-me emoldurar-te de beijos

O cheiro que emanas nas manhãs em minha pele perpetuar

E do teu corpo esguio todo eu sou violentos desejos

Cheguei. Esperei-te e encontrei-te. Quero ficar!

 

Morro de carinho com a tua voz com os teus gestos

E sempre que me desarmas com a tua inteligência

E transformo em ternura raras friezas e protestos

 

Morro de carinho da tua prosa e ciência

Que deveria ser explicada em futuros manifestos

Ou então, simplesmente, eternizar-se na tua existência!